sábado, 18 de outubro de 2014

Sobre o nome do blog



O nome do blog e a imagem presente em seu header foram roubadas inspiradas no hq "Resignação", do Lourenço Mutarelli. A hq foi publicada originalmente em 1996 na revista "Brasilian Heavy Metal" e, depois, em 1998, entrou na coletânea "Seqüelas", que foi onde a conheci.  Para mim, é a melhor história do senhor Mutarelli e por anos retomava sua leitura. Algo aconteceu nessas tantas mudanças de casa que, infelizmente, perdi meu exemplar de "Seqüelas", mas como um louco em busca de um tesouro escondido ainda nutro a esperança de reencontrar meu exemplar perdido (há muito esgotada, a edição é vendida a preços proibitivos para meus pobres bolsos).

Procurando nomes para esse novo blog, em uma sessão de escrita automática, a frase veio de repente, como uma avalanche inesperada: "Morrer é como voltar para casa". É essa a frase que fecha a história do triste casal que, de mentira em mentira, suporta o cotidiano esmagador dos afetos. Quantas promessas de amor-sem-fim a repetição dos dias não tornou pó, nunca saberemos, mas é certo que sua quantidade preencheria o Cosmo (e talvez seja essa a energia secreta que nutre a vida, o estilhaçar das promessas?). Mutarelli rasgou minha retina e preencheu com nanquim um espaço em meu cérebro, e dessa frase nunca esquecerei, assim como jamais esquecerei do peixe que aparece no sonho da personagem, em cuja boca havia uma meia onde estavam bordados os nomes de todas as coisas. 

Ao mesmo tempo que o nome do blog é uma citação da hq de Mutarelli, vejo na frase "Morrer é como voltar para casa" um sentido outro, de natureza metafísica. Os gnósticos sustentavam que a Criação era fruto do Demiurgo, que pretendia suplantar a majestade do verdadeiro Deus - que permanecia incognoscível. O Deus verdadeiro teria criado diversos seres e planos existenciais; um dos seres, Jeovah, em sua loucura de poder, teria acreditado que era o único Deus verdadeiro, e criou o mundo físico, nele aprisionando algumas centelhas que se dispersaram do Deus real. 

Assim, esse Deus que cristãos, judeus e muçulmanos veneram é, na verdade, um impostor. Todo o mundo material, portanto, faz parte dessa grande mentira demiúrgica que aprisiona as almas em um sonho de onipotência de uma entidade bizarra, que alimentando-se da veneração de bilhões, se fortalece e separa cada vez mais os crentes da verdadeira salvação. Assim, a morte, como término da vida material, tem como conseqüência liberar a fagulha divina que o Demiurgo aprisionou na matéria - proporcionando assim uma chance de retorno ao estágio inicial, divino, do qual todos os seres viventes comungam.

É possível ridicularizar contestar tudo o que acabei de escrever. Faça como quiser. Não estou apto a discutir mais nada. Apenas concordarei com tudo o que me disserem, com a única intenção de que o vozerio sem fim se torne silêncio, puro silêncio. Dessa forma os dias passam e dessa forma, em silêncio e reclusão, é que desejo passar todos os meus.

Contemplemos, apenas, alguns trechos do hq.